Ao som de uma bela melodia, num canto a sós.
‘ (...) vazias, as mãos como os meus dias...’ E têm sido assim os meus dias , vazios.
Perdi a piada, acho. Como flor no escuro, encolhi-me e não consigo desabrochar. Sinto falta desse sentimento de renascer. Quero renascer.
O relógio continua com as suas pegadas sussessivas (tictac tictac) e eu sinto-me parada no tempo. Os ponteiros não param, eu sei. A vida continua a passar, e eu sei que estou a desperdiçá-la, eu sei.
O comboio descarrilou, foi tudo tão rápido. Foi tudo tão forte. Foi tudo tão doloroso, é ainda. Comprei o próximo ticket para o comboio de retorno. Vou dar meia-volta e encontrar-me a mim quando estava lá, e empurrar-me com força, dando-me a mim mesma força para continuar.
Fernado Pessoa, o GRANDE poeta diz num dos seus poemas, o meu favorito:
‘ A criança que fui chora na estrada,
Deixa-a ali quando vim ver quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-la? Quem errou
A vinda tem regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar,
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.’
Talvez seja isto. Talvez seja isto o que sinto. É impossivel a descrição do que sinto. Estou perdida.
A vida é um labirinto, sonhei em encontrar o meu rumo, pensei até que o tinha encontrado. Desviei-me da rota certa. Estou novamento no cruzamento das três saídas, qual delas?
Na minha face escorre suor. Escorrem até lágrimas. O cansaço é brutal. Estou desgastada. Doi-me o corpo. Tenho os olhos raiados, pequenos, e de baixo deles duas covas bem fundas, negras. Estou caída no chão, sentada sob os meus próprios joelhos, com a cabeça baixa. Estou realmente cansada. É tarde.
Vou dormir.
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